sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

[Rimas e Poesia] - "O menino de Sua Mãe"

Boa Tarde Tertulianas(os). Hoje o Tertúlias traz-vos uma rubrica nova, a Rimas e Poesias. Nesta brindar-vos-ei com alguns dos poemas que mais gosto. 
Para além de gostar de escrever, ler poesia acalma-me a alma. Poesia é uma escrita diferente, é uma partilha de sentimentos e emoções de modo muito forte e peculiar. Não basta talento para a escrita, é preciso inspiração! Já Florbela Espanca dizia "Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija!".

Assim, hoje deixo-vos com um dos poemas que mais me emociona: O menino de Sua Mãe, de Fernando Pessoa.

O Menino da Sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa

Podem ouvir o poema na voz de Mafalda Veiga aqui.

1 comentário:

  1. Belíssimo, intemporal, infelizmente pois neste nosso mundo há sempre uma guerra qualquer para matar os meninos de uma qualquer mãe.....

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