domingo, 1 de julho de 2012

[À Lareira Com] - Filipe Faria

Bom Dia e Bom Domingo? O que se lê por aí hoje?
Espero que tenham um bocadinho para lerem a nossa conversa com o autor Filipe Faria:)






À Lareira Com Filipe Faria...autor das sagas Crónicas de Allarya e Felizes Viveram uma Vez.



Fale-nos um pouco sobre si
Resposta da praxe: sou uma pessoa que descobriu o caminho da sua vida através da escrita, um contador de estórias que teve a felicidade de encontrar relativamente cedo o escoadouro ideal para as suas ideias.

Frequentou a Escola Alemã de Lisboa. De que modo o contacto com uma cultura diferente da nossa influenciou a sua vida e, claro, a sua escrita?
Influenciou de todas as formas que seria de esperar: perspectivas diferentes, outros horizontes, todo um paradigma de vida diariamente juxtaposto àquele com o qual eu crescera. Em relação à minha escrita, pode ser um lugar-comum afirmá-lo, mas não tenho dúvidas de que a disciplina e o método que caracterizam a educação germânica a influenciaram.

Tem um interesse especial pelo fantástico. Como nasceu e cresceu esse gosto?
Sempre tive um fascínio por tudo aquilo que ia para além do mundano, e nunca renunciei aos aspectos quiméricos da vida e daquilo que nos rodeia, à capacidade de pensar no que se encontra ou poderia encontrar do outro lado da cerca realista - e de certa forma auto-imposta - que circunscreve a perspectiva adulta daquilo que nos rodeia... o que, em boa verdade, é uma forma demasiado complicada e algo a «armar aos cágados» de afirmar que consigo olhar para o mundo com olhos de criança e descrevê-lo a partir da perspectiva de um adulto.

Qual a sua memória mais antiga que envolva a escrita?
Uma qualquer composição de Português na primária, que curiosamente vai contra tudo aquilo que hoje me caracteriza enquanto autor. O tema era «Descreve uma viagem tua a Trás-os-Montes». A minha composição: «Eu nunca fui a Trás-os-Montes»...
Aos 16 começou a escrever esboços do livro “A manopla de Karasthan”. Como surgiu a ideia?
O impulso surgiu da leitura de «O Senhor dos Anéis», que me deixou com uma vontade tremenda de criar o meu próprio mundo, ou pelo menos fazê-lo de uma forma mais metódica e organizada. As ideias para a estória propriamente dita, essas são impossíveis de categorizar ou de descobrir a origem, tendo em conta a forma algo caótica como fui imaginando e tecendo as diversas situações da narrativa ao longo de quatro anos antes de sequer começar a escrever.

Como se sentiu quando soube, em Novembro de 2001, que tinha ganho o prémio Branquinho da Fonseca, organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian e o jornal Expresso?
Foi um dos pontos altos da minha vida, e sem dúvida um dos mais importantes. Nunca esquecerei esse momento em que recebi o telefonema.

Desde 2002 já publicou diversos livros. Como se sente ao vê-los publicados e ao ler as criticas dos seus leitores por toda a blogosfera?
Ainda não cheguei a esse ponto na minha carreira literária, em que ver livros meus nas prateleiras de uma superfície comercial me deixa indiferente. Dez anos mais tarde, continua a ser uma sensação especial.

Publicou recentemente “O Perraultimato” da sua mais recente colecção “Felizes Viveram uma vez”. O que nos pode contar sobre este livro, e sobre a sua continuação?

"Felizes Viveram Uma Vez" é uma série que se passa num mundo em que os contos populares coexistem num universo partilhado, um universo no qual as estórias por alguma razão acabaram todas mal. Não houve finais felizes para ninguém, antes pelo contrário, e a maior parte dos contos que conhecemos acabaram de uma forma que deixou completamente irreconhecíveis as personagens que popularam o nosso imaginário infantil. Acontece no entanto que esses finais horripilantes sucederam por uma razão, uma razão acerca da qual algumas personagens estão cientes, embora desconheçam a sua causa. "O Perraultimato" relata o encontro entre uma dessas personagens e outros protagonistas conhecidos do imaginário popular europeu, como a Capuchinho Vermelho ou o Aprendiz de Feiticeiro, assim como algumas mais obscuras tais como o Mama-na-Burra, uma das mais fascinantes figuras do folclore português. Juntos terão de sobreviver a um mundo profundamente hostil, onde o perigo espreita a cada canto, tentar não se matarem uns aos outros, descobrir o motivo pelo qual as suas estórias acabaram tão mal assim e, se de todo possível, repor a ordem natural das coisas.

Que projectos literários tem agora em mãos?
Continuar com o "Felizes Viveram Uma Vez".

Defina, numa palavra, o que a escrita é para si.
Prazer.

Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores
Deixo-lhes uma mensagem que gostava que transmitissem àqueles que não o são: aquilo que envolve a nossa imaginação (livros) pode exigir mais esforço da nossa parte, mas entretém-nos muito mais do que aquilo que estimula a nossa visão e/ou audição de forma passiva (filmes e música, por exemplo). E faz bem à cabeça. Está cientificamente comprovado. Por isso leiam.

Obrigada Filipe Faria

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