quarta-feira, 26 de setembro de 2012

[Opiniões Tertulianas] - "Mr Clarinet" de Nick Stone




"É uma leitura interessante e didáctica é certo, mas fica um pouco aquém de um bom thriller, como os que já foram editados através da colecção Nocturnos da GOTICA." in Menina dos Policiais









Um livro que em boa hora a minha amiga Mira Reis me recomendou e comprei na Feira do Livro do Porto.
É o livro de estreia de Nick Stone e passa-se no Haiti, país onde o autor viveu durante parte da sua infância em casa dos avós e onde retornou em outras ocasiões.

Parti para esta leitura com a ideia de ler um excelente thriler e acabo por ler não só isso mas principalmente um excelente livro sobre o Haiti.
A sua história e condições de vida absolutamente degradantes são-nos retratadas duma forma dura e por vezes tornou-se difícil prosseguir a leitura deste livro.

Max Mingus é um ex-policia e posterior detective privado, especialista em encontrar crianças desaparecidas, que é solto da prisão após cumprir pena por homicídio de três assassinos (aqui somos logo direccionados para o sentimento ambíguo de aceitação/condenação do crime). É contactado para investigar o desaparecimento do herdeiro da família Carver, Charlie, ocorrido no Haiti há três anos e acaba relutantemente por aceitar a troco de 10 milhões de dólares.

Durante décadas, tal como Charlie Carver, inúmeras crianças desapareceram no Haiti e é este detalhe que acaba por ser um dos fios condutores no enredo desta história.
Voodoo, magia negra e a figura macabra de Mr. Clarinet, um monstruoso raptor de crianças, associados à ganância de poder e dinheiro, a pedofilia e condições de vida sub-humanas e um clima de terror, acabam por ser ingredientes suficientes para nos deixar com uma sensação de verdadeira aversão que por vezes torna difícil prosseguir a leitura.
Na primeira parte do livro ficamos a saber a história de Max, presente e passada, bem como as razões que o levam a ter tanta relutância em aceitar o “trabalho” que lhe propôs a familia Carver. Começamos também a perceber que Max terá igualmente de enfrentar alguns demónios e medos  pessoais para conseguir prosseguir nesta investigação.
Torna-se por vezes uma leitura arrastada, lenta, fica-se com a sensação que falta acção e nunca mais começa a “verdadeira” história mas, assim que o cenário muda para o Haiti, quase desejamos que tudo volte atrás e que a história mude para fugirmos de toda aquela decadência e podridão humana que nos chega a revolver as entranhas de tão chocante que é...
A história entra então  num ritmo por vezes frenético e duma dureza chocante , gráfica e descritiva, que nos mantém presos desejando a chegada do fim para conseguir digerir os horrores descritos e saber finalmente o que aconteceu a Charlie e outras tantas crianças que tiveram ainda pior sorte do que ele, mas também saber afinal quem está por trás da máscara do abominável Mr. Clarinet.

Quem se recorda da história do Haiti, revive muito do que viu e leu na imprensa, os Tonton Macoutes, Papa Doc, Baby Doc, Aristide, barões da droga, HIV, miséria a um nível sub-humano, violações dos direitos humanos ..., acabando mesmo por deixar essas memórias tomarem quase conta da leitura, tornando-se extremamente difícil deixar de “visualizar” os horrores descritos no livro.
Quando finalmente chegamos ao fim e podemos largar as imagens de violência pensando já em pegar em algo mais soft para compensar, constatamos que essas mesmas imagens perduram em nós e dificultam o inicio de outra leitura. Entramos como costumo dizer, em período de ressaca...

Um livro que aconselho sem reservas aos amantes de thrillers mas igualmente aos amantes da História e se como eu gostarem de ambos, então têm aqui uma obra imperdível embora de difícil “digestão”!

Teresa Carvalho

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