domingo, 21 de outubro de 2012

[À Lareira com] - Margarida Fonseca Santos

 

À Lareira com... Margarida Fonseca Santos, autora da colecção infantil "7 Irmãos".


 

Fale-nos um pouco sobre si. 
Comecei a minha vida profissional ligada à Música, pois fui professora de Formação Musical e Pedagogia durante muitos anos. A escrita só surgiu mais tarde, aos 33, e acabou por passar de percurso paralelo para a principal actividade. Actualmente, para além de escrever, dou aulas de escrita em várias escolas e trabalho muito para teatro. Também comecei com a brincadeira das histórias em 77 palavras, que está cada vez com mais participantes, e escrevo contos para o Suplemento de Educação do Jornal de Letras.

Tem vários livros publicados, na sua grande maioria para crianças e jovens. Porquê dedicar-se à Literatura juvenil?
Acho que seria incapaz de deixar de escrever para crianças, jovens ou adultos. Não se publica com a mesma cadência nestes três registos, mas estou sempre indo de um para o outro. Trabalho com crianças e jovens e, por isso, faz-me muito sentido escrever para eles. No entanto, a escrita de adultos permite-me uma liberdade (tanto de temas como recursos narrativos) que me encanta, e vou-me mantendo sempre também nesse registo. O porquê? Talvez porque gosto de contar histórias e provocar reacções e pensamentos.

Escreve com regularidade para teatro. Qual a peça que gostou mais de escrever? Já foi alguma encenada?
Imensas! As para crianças e jovens representam o grupo maior, com as peças sobre matemática à cabeça. Não há ano nenhum que não tenha uma peça em cena. As de adultos são mais espaçadas no tempo. As duas que mais me encantaram? “O Navio dos Rebeldes” (adultos), “Falha de Cálculo” (crianças) e “Matemática para quê?!” (jovens, actualmente em cena).

Escreve também, com Maria João Lopo de Carvalho, a colecção 7 irmãos. Fale-nos um pouco sobre a colecção. 
A colecção é sobre uma família com 7 filhos. A nossa aposta foi escrever cada livro sobre um dos irmãos, podendo por isso acompanhar formas diferentes de crescer e agir. É uma aposta ganha, pois a frase que mais ouvimos dizer acerca destes livros é: parece que é a minha vida transformada num livro. Penso que os adultos ainda não se aperceberam bem de que tipo de livros estamos a falar – tratamos de assuntos importantes (auto-estima, entreajuda, tolerância, anorexia, morte, amor, homossexualidade, lidar com a falha, etc.), abrindo sempre portas e convidando à reflexão; por outro lado, estão cheios de boa-disposição e peripécias. Divertimo-nos muito a escrevê-la, mas levamos muito a sério a responsabilidade que temos em mãos.

Que vantagens e desvantagens existem em escrever com outra pessoa?
A grande vantagem é a aprendizagem. Tenho tido sorte com as parcerias, sempre escrevi com pessoas que respeitam, estimulam, ajudam, e por aí adiante. Aprendem-se formas diferentes de trabalhar e pensar a escrita, é uma partilha interessante e muito divertida.
Desvantagens? Bom, a liberdade é menor, pois estamos a contribuir para um produto conjunto e, de certa forma, a aproximar-nos de um estilo misto (composto por duas escritas diferentes). Não é apenas a nossa escrita, é a da parceria, assim como os temas são os acordados e não apenas os que nos surgem. No fundo, nem se pode dizer que seja uma desvantagem, é uma forma diferente de escrever.

Começou a escrever em 1993 e neste momento dedica-se a tempo inteiro à escrita. Em Portugal, é factualmente raro uma situação assim. Como surgiu a oportunidade de o fazer?
Tenho uma família especial, essa é a verdadeira razão. Tanto o meu marido como os meus filhos foram categóricos ao dizer, a certa altura, “esta é a tua paixão, segue-a, cá nos arranjamos”. Não foi fácil, e nunca teria partido para esta situação contra a vontade deles. Vivemos por vezes momentos muito complicados em termos financeiros, mas por outro lado é quase um projecto familiar, vibram tanto como eu (às vezes até mais!) a cada projecto, conquista, publicação.
De qualquer forma, é bom que se entenda que não se vive (pelo menos no meu caso) dos direitos de autor. Dedicar-me a tempo inteiro à escrita implica sempre distribuir o tempo pelo ensino e pelos livros, tentando equilibrar as coisas.

Com que dificuldades se tem deparado ao dedicar-se a tempo inteiro à escrita?
Acho que as de todos os escritores – os livros têm um tempo de vida curtíssimo, perdem-se rapidamente num mar imenso de publicações, não existe um grande apoio aos escritores que não estão no topo. Trabalha-se muito e há pouco reconhecimento.

E vantagens?
A enorme vantagem é trabalhar na minha paixão, pois tanto escrever como ensinar são para mim verdadeiras paixões. Esteja a fazer uma coisa ou outra, é sempre com o entusiasmo de partilhar algo que é para mim vital.

Ganhou vários prémios, dos quais se destacam o Prémio Revelação Ficção APE/IPLB e Prémio Nacional do Conto Manuel da Fonseca (1996). O que tem sido mais gratificante enquanto autora?
Os prémios (todos na área da ficção para adultos) ajudaram a criar laços com editoras, a facilitar publicações. Não sei se, sem eles, teria conseguido publicar livros para adultos. Contudo, o mais gratificante é falar com os leitores, partilhar com eles cada livro. Isso sim, é uma fonte de experiências que nunca se esquece.

Orienta ateliers de escrita com crianças, adultos e professores. Como surgiu a oportunidade de o fazer? Pode falar-nos um pouco mais sobre isso?
Surgiu na sequência da minha paixão pelo ensino, aliada ao conhecimento de como se pode pôr outros a escrever com prazer. Comecei com projectos pequenos, tentativas de ver como resultava, mas neste momento ocupam-me mais de metade do meu tempo de trabalho. Dou aulas na Restart, na Universidade Católica, na EscreverEscrever, na Escrita Criativa Online, em centros de formação. Gosto mesmo muito de o fazer – é sempre uma descoberta para quem participa, e para mim!, são cursos muito gratificantes. O segredo está em distrair a pessoa do peso do acto de escrever, para que possa começar a descobrir outros caminhos e, sobretudo, o prazer na escrita.

Tem um blogue, desde 2008, cujo título é o seu nome. Porque o criou?
Criei o blogue para ir pondo as notícias do que vou fazendo. Neste momento, o blogue mais activo é o www.77palavras.blogspot.com. Comecei por ter uma rubrica na revista Pais & Filhos (escrevia três histórias em 77 palavras e a Francisca Torres ilustrava), depois a ideia autonomizou-se e, neste momento, publico desafios de escrita a cada dia 10, 20 e 30 de cada mês. Recebo participações de pessoas de todas as idades (as escolas aderiram em força), de Portugal e do Brasil. É um fenómeno muito interessante! E o blogue transformou-se também numa base de dados de exercícios de escrita criativa, pois podem ser usados para histórias maiores, claro.

Dedica-se a tempo inteiro, como já referimos ao longo da entrevista. Tem alguma rotina de escrita?
Gostava de ter, mas não é possível. Não tenho uma ocupação rotineira, por isso escrevo quando posso, onde quer que esteja, aproveito todos os momentos. Às vezes estou no meio do país, visitando escolas, tem de ser assim!

Deixe uma mensagem para os seus leitores. 
O facto de partilharem comigo o que sentiram nos livros é sempre, sempre, uma bênção. Peço-vos que continuem a fazê-lo, é muito bom saber o que pensam. E agradeço-vos, queridos leitores, a força, o entusiasmo, o carinho com que seguem o meu trabalho! 

E para os aspirantes a escritores, pode deixar umas palavras?
Leiam muito… Desconfiem sempre de quem diz que não lê para não se deixar influenciar – é mentira. E escrevam regularmente, participem em concursos, experimentem todas as ferramentas que encontrarem, façam cursos de escrita com vários professores, aprendam tudo o que puderem. Só assim conseguirão chegar à vossa voz, àquela que é só vossa.

3 comentários:

  1. Vem à minha escola no mês de novembro.
    Já me disseram que é uma comunicadora de mão cheia.

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  2. Que possa continuar a alimentar os sonhos e a torná-los realidade. Vemo-nos em Abril, na Biblioteca da minha escola, a EB 2 e 3 de Nogueira, em Braga.Bem haja

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