domingo, 10 de fevereiro de 2013

[À Lareira com] - Hugo Girão






À Lareira com...Hugo Girão, autor dos livros "O Silêncio das Almas", "O Silêncio dos teus olhos" e "Os meninos do vento".


Fale-nos um pouco sobre si
Sou neto de fadistas (Fernando de Freitas e Maria Girão) e filho do músico Fernando Girão(músico, produtor, cantor, compositor). Quis o destino que nascesse em Lisboa, em Novembro de 1975. O pilar fundamental da minha vida é a família (a minha mulher e os meus dois filhos são a primeira razão da minha existência, afinal são eles que me ensinam a paciência para poder conviver comigo mesmo) e a minha máxima é  tentar ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje.

Tem antecedentes familiares relacionados com a música: seu pai, Fernando Girão, o seu avô, Fernando Freitas, e a sua avó, Maria Girão. Qual o lugar/papel que a música tem na sua vida?
Para mim a música é como o ar que respiro. Não concebo um mundo absente de melodias e harmonias, aliás, todos os meus livros são acompanhados por uma banda sonora; a música é um dos pilares fundamentais da minha escrita; escrever sem música deixar-me-ia vazio. Enquanto respondo às vossas questões  acompanham-me Annie Lennox(Dark Road), Peter Gabriel (In Your Eyes), Josh Groban (You Raise Me Up) e o meu “tio” Miguel Braga (Doce Revelação). 

Começou a escrever os primeiros textos aos 11 anos. Lembra-se de algum desses textos?
O meu trabalho baseia-se sobretudo na transcrição dos meus sentimentos em tudo o referente às relações humanas e o seu pilar fundamental: o amor. Naquele tempo os meus escritos alicerçavam-se no poder que esse grande motor da humanidade exercia sobre mim, essa busca misteriosa e incessante, tão própria da pueril idade. No entanto lembro-me particularmente de dois deles; o primeiro texto que escrevi relatava a preocupação de Rambo (mítico personagem interpretado por Sylvester Stallone) em afastar-se da sua vida de guerrilheiro para encontrar um sítio tranquilo num bosque e construir uma cabana; o outro era uma composição musical, apenas melódica, que falava do Brasil e das suas qualidades e gentes. 

Também fez teatro. Como isso influenciou a sua vida e a sua escrita?
Ah, esses tempos... A minha imensa e eterna gratidão à Casa da Cultura de Loulé, que me acolheu como mais um membro da sua grande família. À parte do teatro não profissional mas feito com amor, deixei grandes amigos (que o continuam sendo) e que sempre levarei no coração. No meu caso o teatro não foi elemento directo e influenciador na minha escrita, não obstante tive a sorte de estar rodeado de gente sensível e mais inteligente do que eu, que partilhou profundos saberes e sentires que, sem querer (ou talvez não), impregnaram-se-me.

Em 2006 lançou o seu primeiro livro “O rei e o homem que já tinha sido”. Como surgiu a oportunidade de se lançar no mundo da literatura?
Em 2004 Portugal começava a mostrar sintomas de que nem tudo o que brilhava era ouro. Assim sendo um familiar havia-me falado que a realidade espanhola em nada se comparava à nossa, o que me fez pensar duas vezes e me levou a decidir-me por Espanha. Já no país vizinho, num afã pessoal de não perder o contacto com o teatro, conheci Valia Percik, actriz argentina que, à parte de me mostrar técnicas que desconhecia, ensinou-me uma valiosa lição com uma pequena frase: não te ates às formas. Estas sábias palavras aliadas à leitura de “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada” de Robert Fischer e “O Alquimista” de Paulo Coelho, despertaram em mim a vontade de escrever esta primeira fábula, homenagem à doutrina espiritista de Allan Kardec que tanto me ensinou e continua ensinando, mostrando-me, através das suas leituras, os trilhos verdadeiros para ser um melhor ser humano, meta que tento atingir, dia após dia.

É a internet que me dá a possibilidade de conhecer o selo Papiro Editora, que se interessou pelo projecto e decidiu avançar com a sua edição.
Apesar de se encontrar descatalogado, recentemente revisitei o seu universo, dando-lhe uma nova alma, sem que com isso perdesse pitada da sua verdadeira essência.

Anos depois publicou “O silêncio dos teus olhos”. Em que se inspirou para o escrever?
Um escritor sem musa é como um jardim ausente de flores. Eu tenho o privilégio de partilhar os dias e as noites com uma mulher que me conhece, me entende e me ama. Por vezes a rotina diária é como uma máquina dilapidadora de sentimentos que nos obriga a esquecer as conquistas e os logros dos pequenos grandes momentos. Tenta este livro ser uma singela homenagem à minha mulher e à resiliência sua, a personificação da minha admiração através de singelas palavras; é, consequentemente, uma homenagem às mulheres que já não estão mas que deixaram rasto nos trilhos da minha alma, um humilde agradecimento pela forma como me protegeram do mundo e de como mo mostraram.

Escreveu ainda “O silencio das almas” em co-autoria com Isabel Fontes. Como foi escrever em co-autoria com outro autor?
Foi bem mais fácil do que pode parecer à primeira vista. O e-mail tem destes milagres, simplifica consideravelmente tarefas impensáveis ou, à partida, algo complicadas em termos logísticos. Não obstante a vontade, a força de vontade, a persistência e todos os seus sinónimos ajudam-nos a transpôr qualquer barreira, e isso foi o que aconteceu com este texto. Foi um prazer enorme escrever este livro e ter tido, através da Isabel Fontes, o privilégio de conhecer os meus editores que, nestes difíceis momentos, continuam a apostar pela força dos novos valores, por meio do selo Fronteira do Caos Editores (http://fronteiradocaoseditores.pt).

Tem algum ritual quando escreve?
A primeira coisa que faço antes de escrever o que quer que seja é encontrar uns quantos temas musicais que possam-me abrir os poros da inspiração; as primeiras palavras são sempre as mais difíceis de serem encontradas. Uma vez foram postas em liberdade e após o ritual musical, leio e releio o que estou a escrever com o intuito de testar a sua veracidade; se não acreditar no que escrevo não posso pedir ao leitor que o faça por mim, seria desleal e falto de ética. Parafraseando-me, mau é seres enganado pelos outros, pior é sê-lo por ti mesmo...

Tem em mãos, actualmente, algum projecto literário? (se sim)Pode contar-nos um pouco sobre ele?
Creio que todos os escritores temos projectos em mente continuamente, somente não temos o tempo suficiente para transpô-los para o papel. O meu último romance intitular-se-á “Depois do Último Comboio”, a ser brevemente editado pelo selo Fronteira do Caos Editores, que conta a história de dois adolescentes, ambientada nas ruas da cidade de Madrid de finais dos anos oitenta.

Recentemente tive o privilégio de participar num e-book intitulado Paralelos, conjuntamente com outros quatro grandes escritores e um fotógrafo portugueses, a convite do amigo e também escritor Alberto Silva, disponível para descarga gratuita em:



Se tivesse que escolher uma música para “banda sonora” da sua vida, qual seria?
São tantas as músicas que trago comigo... Vou tentar ser o mais coerente e justo possível, mas tenho que referir, pelo menos, seis músicas que poderiam muito bem ser a banda sonora da minha vida: “In Your Eyes” e “Don't Give Up” de Peter Gabriel, “Enjoy The Silence” dos Depeche Mode, “Right Here Waiting For You” de Richard Marx, “Deixem o Índio Viver”(difícil escolha de um dos álbuns mais belos da longa carreira do meu pai) e “Nas Flores Pintei O Teu Nome”, de Fernando Girão.

Gosta de ler? Pode referir-nos um dos seus livros preferidos?
Não gosto, ADORO, apesar de não ler tudo o que anelo, quer pela falta de tempo, quer pela cada vez maior falta de poder adquisitivo e o preço proibitivo de alguns livros. Quanto ao meu livro de referência  não podia ser outro senão “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry, apesar de ter no meu coração outros grandes livros como “Siddartha” de Herman Hesse, “A Rapariga Que Roubava Livros” de Markus Zusack, “A Rapariga de Java” de Pramoedya Ananta Toer, “Terra Sonâmbula” de Mia Couto, “A Mecânica do Coração”, de Mathias Malzieu, “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera, “O Ladrão de Livros” de Carlos J. Barros, “O Segredo” de João Pedro Martins, “branco” de Alberto Silva, “Malham e outros contos” de Olinda Morgado, dentre tantos outros...

Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.
Grato a todos aqueles que me procuram nas livrarias, no facebook, na internet; grato por investirem o dinheiro do vosso suor e inventarem tempo para lerem as minhas palavras, sem vocês escrever carece de sentido; grato ao Tertúlias à Lareira e a todos os outros blogs pelo manifesto interesse no meu trabalho e na minha pessoa, sem vocês seria um pouco mais difícil. Votos de sáude (esse bem precioso que costumamos esquecer), paciência para os tempos vindouros e, principalmente, ILUSÃO, combustível indispensável da vida...

LUZ EM VOSSOS CAMINHOS...SEMPRE...ASSIM SEJA

h.g.


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