À Lareira com...Hugo Girão, autor dos livros "O Silêncio das Almas", "O Silêncio dos teus olhos" e "Os meninos do vento".
Fale-nos um pouco
sobre si
Sou neto de fadistas (Fernando de Freitas e Maria Girão) e
filho do músico Fernando Girão(músico, produtor, cantor, compositor). Quis o
destino que nascesse em Lisboa, em Novembro de 1975. O pilar fundamental da
minha vida é a família (a minha mulher e os meus dois filhos são a primeira razão
da minha existência, afinal são eles que me ensinam a paciência para poder
conviver comigo mesmo) e a minha máxima é
tentar ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje.
Tem antecedentes
familiares relacionados com a música: seu pai, Fernando Girão, o seu avô,
Fernando Freitas, e a sua avó, Maria Girão. Qual o lugar/papel que a música tem
na sua vida?
Para mim a música é como o ar que respiro. Não concebo um
mundo absente de melodias e harmonias, aliás, todos os meus livros são
acompanhados por uma banda sonora; a música é um dos pilares fundamentais da
minha escrita; escrever sem música deixar-me-ia vazio. Enquanto respondo às
vossas questões acompanham-me Annie
Lennox(Dark Road), Peter Gabriel (In Your Eyes), Josh Groban (You Raise Me Up)
e o meu “tio” Miguel Braga (Doce Revelação).
Começou a escrever
os primeiros textos aos 11 anos. Lembra-se de algum desses textos?
O meu trabalho baseia-se sobretudo na transcrição dos meus
sentimentos em tudo o referente às relações humanas e o seu pilar fundamental:
o amor. Naquele tempo os meus escritos alicerçavam-se no poder que esse grande
motor da humanidade exercia sobre mim, essa busca misteriosa e incessante, tão
própria da pueril idade. No entanto lembro-me particularmente de dois deles; o
primeiro texto que escrevi relatava a preocupação de Rambo (mítico personagem
interpretado por Sylvester Stallone) em afastar-se da sua vida de guerrilheiro
para encontrar um sítio tranquilo num bosque e construir uma cabana; o outro
era uma composição musical, apenas melódica, que falava do Brasil e das suas
qualidades e gentes.
Também fez teatro.
Como isso influenciou a sua vida e a sua escrita?
Ah, esses tempos... A minha imensa e eterna gratidão à Casa
da Cultura de Loulé, que me acolheu como mais um membro da sua grande família.
À parte do teatro não profissional mas feito
com amor, deixei grandes amigos (que o continuam sendo) e que sempre
levarei no coração. No meu caso o teatro não foi elemento directo e
influenciador na minha escrita, não obstante tive a sorte de estar rodeado de
gente sensível e mais inteligente do que eu, que partilhou profundos saberes e
sentires que, sem querer (ou talvez não), impregnaram-se-me.
Em 2006 lançou o seu
primeiro livro “O rei e o homem que já tinha sido”. Como surgiu a oportunidade
de se lançar no mundo da literatura?
Em 2004 Portugal começava a mostrar sintomas de que nem tudo o que brilhava era ouro. Assim
sendo um familiar havia-me falado que a realidade espanhola em nada se
comparava à nossa, o que me fez pensar duas vezes e me levou a decidir-me por
Espanha. Já no país vizinho, num afã pessoal de não perder o contacto com o
teatro, conheci Valia Percik, actriz argentina que, à parte de me mostrar
técnicas que desconhecia, ensinou-me uma valiosa lição com uma pequena frase: não te ates às formas. Estas sábias
palavras aliadas à leitura de “O Cavaleiro da Armadura Enferrujada” de Robert
Fischer e “O Alquimista” de Paulo Coelho, despertaram em mim a vontade de
escrever esta primeira fábula, homenagem à doutrina espiritista de Allan Kardec
que tanto me ensinou e continua ensinando, mostrando-me, através das suas
leituras, os trilhos verdadeiros para ser um melhor ser humano, meta que tento
atingir, dia após dia.
É a internet que me dá a possibilidade de conhecer o selo Papiro
Editora, que se interessou pelo projecto e decidiu avançar com a sua edição.
Apesar de se encontrar descatalogado, recentemente revisitei o seu
universo, dando-lhe uma nova alma, sem que com isso perdesse pitada da sua
verdadeira essência.
Anos depois publicou “O silêncio dos teus olhos”. Em que se
inspirou para o escrever?
Um escritor
sem musa é como um jardim ausente de flores. Eu tenho o privilégio de partilhar
os dias e as noites com uma mulher que me conhece, me entende e me ama. Por
vezes a rotina diária é como uma máquina dilapidadora de sentimentos que nos
obriga a esquecer as conquistas e os logros dos pequenos grandes momentos.
Tenta este livro ser uma singela homenagem à minha mulher e à resiliência sua,
a personificação da minha admiração através de singelas palavras; é,
consequentemente, uma homenagem às mulheres que já não estão mas que deixaram
rasto nos trilhos da minha alma, um humilde agradecimento pela forma como me
protegeram do mundo e de como mo mostraram.
Escreveu
ainda “O silencio das almas” em co-autoria com Isabel Fontes. Como foi escrever
em co-autoria com outro autor?
Foi bem mais fácil do que pode parecer à primeira vista. O e-mail
tem destes milagres, simplifica consideravelmente tarefas impensáveis ou, à
partida, algo complicadas em termos logísticos. Não obstante a vontade, a força
de vontade, a persistência e todos os seus sinónimos ajudam-nos a transpôr
qualquer barreira, e isso foi o que aconteceu com este texto. Foi um prazer
enorme escrever este livro e ter tido, através da Isabel Fontes, o privilégio
de conhecer os meus editores que, nestes difíceis momentos, continuam a apostar
pela força dos novos valores, por meio do selo Fronteira do Caos Editores (http://fronteiradocaoseditores.pt).
Tem algum ritual quando escreve?
A primeira coisa que faço antes de escrever o que quer que
seja é encontrar uns quantos temas musicais que possam-me abrir os poros da
inspiração; as primeiras palavras são sempre as mais difíceis de serem
encontradas. Uma vez foram postas em liberdade e após o ritual musical, leio e
releio o que estou a escrever com o intuito de testar a sua veracidade; se não
acreditar no que escrevo não posso pedir ao leitor que o faça por mim, seria
desleal e falto de ética. Parafraseando-me, mau é seres enganado pelos
outros, pior é sê-lo por ti mesmo...
Tem em mãos, actualmente, algum projecto literário? (se
sim)Pode contar-nos um pouco sobre ele?
Creio que todos os escritores
temos projectos em mente continuamente, somente não temos o tempo suficiente
para transpô-los para o papel. O meu último romance intitular-se-á “Depois do
Último Comboio”, a ser brevemente editado pelo selo Fronteira do Caos Editores,
que conta a história de dois adolescentes, ambientada nas ruas da cidade de
Madrid de finais dos anos oitenta.
Recentemente tive o privilégio de
participar num e-book intitulado Paralelos, conjuntamente com
outros quatro grandes escritores e um fotógrafo portugueses, a convite do amigo
e também escritor Alberto Silva, disponível para descarga gratuita em:
Se tivesse que escolher uma
música para “banda sonora” da sua vida, qual seria?
São tantas as músicas que trago comigo... Vou tentar ser o
mais coerente e justo possível, mas tenho que referir, pelo menos, seis músicas
que poderiam muito bem ser a banda sonora da minha vida: “In Your Eyes” e
“Don't Give Up” de Peter Gabriel, “Enjoy The Silence” dos Depeche Mode, “Right
Here Waiting For You” de Richard Marx, “Deixem o Índio Viver”(difícil escolha
de um dos álbuns mais belos da longa carreira do meu pai) e “Nas Flores Pintei
O Teu Nome”, de Fernando Girão.
Gosta de ler? Pode referir-nos um dos seus livros
preferidos?
Não gosto, ADORO, apesar de não ler tudo o que anelo, quer
pela falta de tempo, quer pela cada vez maior falta de poder adquisitivo e o
preço proibitivo de alguns livros. Quanto ao meu livro de referência não podia ser outro senão “O Principezinho”,
de Antoine de Saint-Exupéry, apesar de ter no meu coração outros grandes livros
como “Siddartha” de Herman Hesse, “A Rapariga Que Roubava Livros” de Markus
Zusack, “A Rapariga de Java” de Pramoedya Ananta Toer, “Terra Sonâmbula” de Mia
Couto, “A Mecânica do Coração”, de Mathias Malzieu, “A Insustentável Leveza do
Ser” de Milan Kundera, “O Ladrão de Livros” de Carlos J. Barros, “O Segredo” de
João Pedro Martins, “branco” de Alberto Silva, “Malham e outros contos” de
Olinda Morgado, dentre tantos outros...
Para terminar, deixe uma mensagem aos nossos leitores.
Grato a todos
aqueles que me procuram nas livrarias, no facebook, na internet; grato por
investirem o dinheiro do vosso suor e inventarem tempo para lerem as minhas
palavras, sem vocês escrever carece de sentido; grato ao Tertúlias à Lareira e
a todos os outros blogs pelo manifesto interesse no meu trabalho e na minha
pessoa, sem vocês seria um pouco mais difícil. Votos de sáude (esse bem
precioso que costumamos esquecer), paciência para os tempos vindouros e,
principalmente, ILUSÃO, combustível indispensável da vida...
LUZ EM VOSSOS
CAMINHOS...SEMPRE...ASSIM SEJA
h.g.
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