domingo, 10 de fevereiro de 2013

[Opinião] - "O Funeral da nossa mãe" de Célia Correia Loureiro




"A avó dissera-lhe que a mulher é biologicamente talhada para atrair o homem a si. Garantira-lhe que, depois de os lábios dele provarem dos dela, ou de a sua mão roçar a calidez das suas coxas, não haveria retorno possível. Ela teria ganho a batalha, se não a guerra. Ainda assim, a ideia de o ludibriar, chamando-o e seduzindo-o, fazia envergonhar-se de si própria."





Já li este livro há alguns meses, e na verdade foi um dos livros que mais demorei a ler nos últimos tempos. Não por desgostar da leitura ou por não ser um bom livro, nada disso, mas sim por razões pessoais. Quem sabe, um dia, ainda pegue nele novamente e o leia de seguida como gosto realmente de fazer.

Nunca tinha lida nada da autora até ter recebido este livro e ter decidido pegar nele. Já tinha lido opiniões bastante positivas do primeiro livro de Célia, "Demência", que me aumentaram a curiosidade perante este. E na verdade as expectativas que tinha não sairam, de modo algum, furadas, e a surpresa com a autora foi ainda maior.

Ao longo das 435 páginas a autora dá-nos a conhecer a história de vida das personagens e dos seus familiares, os seus segredos mais bem escondidos e por desvendar, que vão sendo, aos poucos, descobertos, como se de um puzzle se tratasse, e então, no fim, tivessemos todo um magnifico e arrepiante quadro perante nós.

Conta-nos a história de Carolina, que deixa uma carta às suas 3 filhas, quando se suicida, juntando assim a familia naquele que será o seu funeral. Assim, e com ajuda de uma tia, ao longo de 4 dias, as irmãs descobrem o segredo que sua mãe carregou durante toda a vida e que vai desmoronar a imagem que tinham dela.
Conhecemos assim três personalidades tão distintas que é quase impossivel não nos identificar-mos com alguma delas, e mais dificil ainda não nos afeiçoar-mos a elas como se fossem reais. Luísa,a irmã mais velha, uma mulher independente e despegada, de relações superficiais, que se mudou para França e vive imersa no seu trabalho. Cecilia, a irmã "do meio", dedicou-se à arte como pianista, mas acima de tudo dedicou-se a tentar ter uma familia, um marido. Voltou a viver na aldeia onde viviam com Carolina. É vista como uma mulher frágil e insegura, e que não luta por aquilo que realmente quer. É uma sonhadora que vive com os pés demasiado assentes na terra. Tenta, ao longo do enredo, desculpar os segredos crueis e o acto vil que a mãe cometeu, não apenas para os outros, mas especialmente para ela própria não deixar morrer a mãe que julgava conhecer. E por último Inês, a irmã mais nova, uma jovem fria e revoltada que esconde consigo um segredo do seu passado que fez com ela carregasse uma mágoa demasiado pesada para alguém tão jovem, sendo essa a razão para esconder os seus medos debaixo da capa de Inês forte e independente que ela tenta demonstrar aos outros.

Ao longo de toda a história presente, e de irmos conhecendo todos estes personagens, Célia vai-nos contando o passado de Carolina e de Lourenço, pai das meninas, através de analapses. Ao recuarmos no tempo vamos construindo assim, na nossa imaginação mais duas personagens, e é assim que conseguimos, nas últimas páginas, fechar o livro e termos o quadro completo daquela familia que aparentava ser tão correcta e perfeita mas que, no fundo, foi construida sob pilares tão frágeis que rapidamente iriam ruir.

Com uma escrita extremamente descritiva, podendo por vezes tornar-se um pouco em demasia, e bastante romantica, Célia Loureiro leva-nos por paisagens de uma aldeia que podia muito bem ser aquela Aldeia onde passavamos férias quando eramos miudos, ou aquela aldeia onde os nossos amigos iam visitar os avós.

É ao ler obras destas, e ao fechar livros como este que me apercebo que temos realmente autores portugueses fantásticos e que apostamos tão pouco neles em vez de os enaltecermos por aquilo que tão bem fazem.
Um excelente livro que espero vir a reler numa altura em que esteja unicamente dedicada à leitura. Aconselho.

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