"Relato impressionante de uma época que não devemos esquecer!
Escrito de uma forma crua, na primeira pessoa, sem uma grande adjectivação mas sem esconder a realidade dos factos vividos, esta leitura fez-me lembrar o livro de Primo Levi, Se isto é um homem. " in O Tempo entre os meus livros
Eu sempre gostei de livros que abordam o tema da segunda grande guerra e do holocausto que vitimizou mortalmente milhões de judeus, principalmente se forem relatos verídicos de vítimas reais. Dentro deste universo literário já li livros como “O diário de Anne Frank” de Anne Frank, “Memórias de Anne Frank”, de Theo Coster, “Clara – A menina que sobreviveu ao Holocausto” de Clara Kramer e “O rapaz do pijama às riscas” de John Boyne e gostei muito de todos eles. Para além dos que já li, a minha wishlist também inclui livros deste tema como por exemplo, “Portugueses no Holocausto” de Esther Mucznik. Assim, quando este livro foi divulgado, prendeu o meu interesse de imediato, como podem calcular, pelo que decidi lê-lo.
Ao contrário da maior parte dos livros relacionados
com esta temática, a obra de Helen Lewis não se foca no “pior” lado deste
terrível acontecimento da história mundial, pelo contrário, neste livro a
autora tenta, de algum modo, mostrar e explicar aos leitores que em todos as
situações, é benéfico para nós vermos o que há de bom nas pessoas, pois afinal
de contas somos todos seres humanos, com coração e com sentimentos, apesar de
eu ter muitas dúvidas de que Hitler os tivesse. Ao dar-nos a conhecer a sua
história de vida, Helen mostra-nos o caminho que percorreu durante esta época
da sua vida, bem como as pessoas que conheceu e os amigos que fez. Mostra-nos
também que apesar de ter sido alvo de tamanha barbaridade, nunca perdeu por
completo a esperança e nunca deixou de procurar o melhor das pessoas, mesmo
daqueles que a queriam ver morta.
Como podemos ler na biografia da autora, Helen
Lewis sempre foi apaixonada pela dança, tendo estudado dança na Escola de Dança
Milča Mayerovà, em Praga, antes de ser deportada, juntamente com o marido para
o Campo de Concentração de Terezín. O que Helen não sabia é que esta sua paixão
iria contribuir fortemente para aguentar todo o sofrimento a que foi sujeita e
para, mais tarde, alcançar a liberdade.
Depois de ter sido deportada pela primeira vez
em 1942, juntamente com o seu recente marido, Helen viria a ser deportada uma
segunda vez, para um dos Campos de Concentração mais conhecidos e mais falados
no universo literário, Auschwitz. No entanto, nesta segunda deportação, Helen
não teve a sorte de permanecer ao lado do seu marido, separando-se assim do
homem que amava, e vindo a saber, já depois da sua libertação que este não
tinha sobrevivido. Ao encontrar-se sozinha, a autora faz de tudo para não se ir
abaixo e para manter a cabeça ocupada, recusando-se a sucumbir à doença e
pestilência em que vivia. A sua capacidade para se dar aos outros e para os
ajudar iria valer-lhe a ajuda preciosa de amigos que fez ao longo desta sua
caminhada, bem como a sua capacidade de pensar com clareza. Foi, apesar de
tudo, a sua capacidade de procurar e de explorar o bem que existe em cada um de
nós que fez com que nunca desistisse, pois Helen nunca deixou de acreditar que
sairia dali com vida, tal como nunca se permitiu a desistir de encontrar
humanidade em todos os seres humanos com que se cruzava, incluindo aqueles que
a mantinham presa e a viver em condições extremamente desumanas.
Eu gostei bastante deste livro, apesar de não
ser dos meus preferidos deste tema, pois senti prazer em ler um relato que ao
contrário dos outros que já li, me transmitem sentimentos de esperança e não de
tristeza e que me fazem acreditar que talvez a humanidade ainda não esteja
perdida. Para além disso, a linguagem utilizada pela autora é clara e leve,
permitindo uma leitura serena aos leitores.
Inês Rodrigues
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