"Preferi acreditar em Deus, entendes, Guido. Diante a evidência convincente do contrário e na total ausência de provas, isto é tudo aquilo que uma pessoa razoável consideraria como provas, da existência de Deus. Acho que torna a vid mais aceitável e torna muito mais fácil tomar determinadas decisões e suportar certas perdas. No entanto é uma escolha minha, apenas isso, e por conseguinte, a outra opção, a opção de não acreditar, é sensata para mim.
(...)
Ambos nos deparamos com as mesmas evidências, ou com a falta delas, e cada um escolheu interpretá-las de uma maneira muito particular."
Este foi o primeiro que livro da autora Donna Leon que eu li. Já tinha lido algumas opiniões sobre a sua escrita, e apercebi-me rapidamente que estes livros são mais do que policiais e, seriam certamente, uma leitura completa.
Assim, foi neste 9º livro da autora publicado pela Planeta, que conheci o comissário Guido Brunetti. Certamente, se tivesse lido os restantes livros, teria uma ideia muito mais complexa deste personagem, no entanto julgo que são livros que se leem bastante bem de forma independente.
Neste romance somos presenteados com uma sociedade italiana que luta conta os medos e os fantasmas que a Máfia provoca, a corrupção, as discriminações éticas e o modo como a fé está tão presente nesta luta, levando muitas vezes à criação de seitas espirituais/religiosas.
Guido, após o falecimento da sua mãe, é contactado por um velho amigo, o Padre Antonin, para que o comissário o ajude a investigar o líder de uma seita denominada "Filhos de Jesus Cristo".
Numa manhã, Guido e Vianello encontram o corpo de uma menina de 11 anos, com indícios de actividade sexual, a boiar no Grande Canal. No entanto, e estranhamente, ninguém reportou o desaparecimento da menina.
Assim, Brunetti aprofunda o caso, com o intuito de saber mais sobre aquela criança, dedicando-se a uma busca incessante pela verdade. Nesse caminho acaba por descobrir segredos que podem pôr em risco outras pessoas. Tornando-se assim numa das investigações mais duras que o comissário já fez, este vê-se imerso em dificuldades devido a preconceitos institucionais e devido à criminalidade encapuçada e escondida pela Máfia.
A escrita da autora é cativante, e leva-nos a viajar pelos canais de Veneza de modo que quase nos sentimos realmente lá. Em algumas descrições quase conseguimos imaginar os cheiros daquelas águas e daqueles locais. Gostei bastante da personagem principal, Guido. Este é um homem bom e integro, que neste livro passa pela provação da morte da mãe, e que tem na família o seu grande apoio, especialmente na sua mulher Paola.
Foi uma boa surpresa este livro. Uma leitura cheia de mistério, de um género que leio pouco, mas que com o tempo se vai entranhando mais nos meus gostos literários. Certamente os amantes desta autora vibrarão com mais uma aventura deste comissário.
Sem comentários:
Enviar um comentário