terça-feira, 6 de agosto de 2013

[Opinião] - "Salvo Pelas Estrelas" de Kristine Barnett


"As pessoas costumam perguntar o que custa mais quando se tem um filho autista,e, para mim, a resposta é fácil. Qual é a mãe que não gosta de ouvir o seu bebé dizer-lhe que a adora ou de sentir-lhe os bracitos em torno do pescoço? Certa noite, perto do final do Verão, cerca de seis meses depois de termos iniciado as nossas "incursões rurais", o meu desejo tornou-se realidade. Ao deitá-lo, curvei-me para o beijar e dar-lhe as boas noites. De  repente, sem nada que o fizesse prever, estendeu os braços e abraçou-me.

Nunca esquecerei aquele momento enquanto viver."





"Salvo pelas Estrelas", distribuído pela Saída de Emergência, foi o livro que me deu a conhecer a editora Self - Desenvolvimento Pessoal.  Esta editora tem como objectivo " Ajudar-nos a ir mais longe, ensinar-nos a fazer melhor, procurar ser o nosso treinador pessoal em tudo o que são áreas de aprendizagem. O desenvolvimento pessoal é algo que pode ser potenciado por cada um de nós."

Vi este livro nas novidades da Saída de Emergência, e não só a capa, mas especialmente a sua temática, chamaram-me imediatamente à atenção.
Este conta-nos a história verídica de um menino autista, da sua família, através da fala na primeira pessoa da sua mãe. Conta-nos todas as suas dificuldades, o que se sente quando os sinais aparecem, quando estes se tornam em sintomas, e quando, após um caminho tortuoso de médicos e especialistas, se chega ao diagnóstico: "o seu filho é autista".
Para além disso, fala-nos ainda dos estereótipos que se criam em torno de um diagnóstico médico. "O seu filho nunca será uma pessoa normal", "O seu filho nunca virá a falar", e muitas outras frases, quase feitas, com as quais estes pais são confrontados.
Muitos passam pela dor, pela negação, pela aceitação, e acabam por viver convencidos que é mesmo assim e que mais nada podem fazer. Mas Kristine não baixou os braços. Ela e o marido, nos primeiros anos do pequeno Jacob, aperceberam-se de pequenas, mas grandes, coisas que o filho fazia. Mesmo depois do diagnóstico de uma patologia profunda do espectro do autismo continuaram a aperceber-se da existência de actividades e situações para as quais o filho dava realmente importância, e era bastante bom
Todos sabemos que uma das características dos autistas é isso mesmo, são crianças que se "fecham" no seu mundo, têm uma enorme necessidade de rotinas, e têm objectos, actividades e movimentos nos quais se dedicam integralmente. E é nisso que os pais se fecham também. Mas esta mãe não. Esta dedicou-se ao filho, e àquilo que via que ele mais gostava e melhor sabia fazer, para assim conseguir torná-lo mais adaptado ao mundo, para conseguir assim trazê-lo mais perto de si, mais perto do mundo. E é precisamente com esse sucesso que o livro começa...

Como futura psicóloga, estes temas não podiam interessar-me menos. É interessante ver o modo como são abordados, mas este livro, em especial, por ser contado por uma mãe que passou por tudo isso, e nunca desistiu do filho e da vida que este, um dia, poderia ter.
É certo que estamos muito habituados ao modelo médico, aquele modelo no qual somos "rotulados" com um diagnóstico, como ser asmático, ou ser diabético, e é muito nesse modelo que as pessoas pensam relativamente aos problemas psicológicos. As pessoas são rotuladas de esquizofrénicas, bipolares...autistas. E são todas tratadas da mesma maneira, como se fosse uma fábrica em que se trabalha em série. Mas a verdade é que, a psicologia é mais que isso, é ver em dois autistas diferentes as suas idiossincrasias, é ver que cada indivíduo é um sere diferente, razão pela qual não se devem fazer diagnósticos em psicologia, mas sim avaliações. E foi isso que esta mãe fez, foi nas características do seu filho, e mais tarde de cada uma das crianças autistas do seu projecto, e trabalharam com isso, com o intuito de lhes dar uma vida melhor.

Estando eu a especializar-me em psicologia da saúde, que afasta um pouco esta problemática do meu dia-a-dia profissional, estou apta para poder avaliar a possibilidade de uma patologia deste espectro, e ler este livro deu-me alguma bagagem, no sentido de que, muitas vezes, os pais precisam de um pequeno apoio, um pequeno incentivo para, também eles, poderem ter parte activa no desenvolvimento adaptativo dos seu filhos.

Uma leitura interessante, forte, de um tema que muita gente põe de lado, com uma componente emocional bastante vincada. Aconselho a sua leitura, não apenas com um olhar profissional, ou um olhar materno, mas sim olhá-lo como um todo... por todos os Jacobs que, um dia, se cruzarem no nosso caminho.

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