À Lareira com...Carina Rosa, autora do livro "O Intruso".
Fale-nos um pouco sobre si
Bem,
falar de nós próprios é sempre complicado, mas sou, e penso que se passa o
mesmo com a maioria dos escritores, muito reservada. Gosto do meu espaço, do
meu silêncio e da minha escuridão, só eu, a minha folha de papel, os meus
personagens e o meu mundo. Sou bastante tímida e gosto de me esconder por detrás
dos personagens que dão vida às minhas histórias. E é mágico como posso criá-los
de qualquer forma, mesmo o oposto daquilo que sou e, por vezes, um pouco
daquilo que gostaria de ser. Não sou muito faladora, a menos que esteja com
alguém que conheça há muitos anos e com quem tenha um elevado grau de
afinidade, mas quando falo sobre as coisas que gosto, aí não consigo parar.
(risos). Acho que sou um pouco estranha, por vezes, ou talvez os outros é que
sejam estranhos. Não sou de saídas à noite e muitos socialismos. Prefiro ficar
na minha paz com um bom livro nas mãos e uma boa história na mente. E quando
não tenho um livro nas mãos, ando sempre a sonhar e a pensar em histórias para
escrever. Acho que vivo, muitas vezes, num mundo à parte e sinto que vivo várias
vidas ao mesmo tempo. Penso que só um leitor e um escritor consegue sentir
isto, porque ler ou escrever uma história é mais do que um conjunto de palavras
num papel. São vidas guardadas em livros que vamos recordar para sempre e
conseguimos vivê-las com tal intensidade que acabam por ser nossas. É isso que
eu quero fazer para sempre. O que mais posso dizer sobre mim? Adoro palavras,
cinema e teatro, adoro ginástica e dança e, claro, música, que tanto me
inspira. E adoro os meus verdadeiros amigos e a minha família. Tenho tanta
sorte por tê-los junto a mim! Não me abro com muita gente. Tenho aquelas
pessoas especiais que sabem quem são, tenho quem me compreenda e quem não me
compreenda. Quem me compreende, tem tudo de mim, o melhor e o pior, quem não me
compreende, nunca irá descobrir-me, talvez porque eu viva sempre em cima, no
sonho, e tanta gente viva constantemente em baixo, na terra. Mas o que será de
nós sem os sonhos? O que levamos daqui? Muitos dizem que sou especial. Para
outros, não passo de uma estranha.
Quando é que a escrita se tornou
importante para si?
Penso
que a escrita sempre foi importante para mim, desde que comecei a ler a
escrever e desde que construí uma barreira enorme entre números e letras, o
ódio e o amor separados e distintos. Sempre gostei de passar os meus
sentimentos para o papel, desde aquela fase da adolescência e das grandes
paixões, em que gostava de escrever poemas de amor e de guardá-los na minha
gaveta, para que mais ninguém os visse. Gostava de escrever sobre mim e sobre
aquilo que sentia, até que percebi que não era sobre mim que eu gostaria de
escrever. Percebi que gostaria de escrever sobre pessoas conhecidas e
desconhecidas e coisas que nunca me aconteceram, sonhos irreais que eu gostaria
de transformar em realidade. Personagens fictícias com vidas fictícias, a quem
eu pudesse moldar o destino, entre a felicidade e a infelicidade, por entre
amores e desamores. Tentei muitas vezes começar um manuscrito, mas penso que me
faltava muita coragem para acreditar em mim mesma e avançar, sem medos, nem
pudores. Podia tê-lo feito à primeira, mas não seria bem feito. Penso que é
necessária alguma maturidade para escrever e mesmo quando publicamos o primeiro
livro, apercebemo-nos de que não a tínhamos. Ela vai crescendo ao longo da
vida, como as nossas aprendizagens, e nunca estaremos totalmente satisfeitos.
Penso que comecei demasiado tarde, ainda assim. Gostaria de ter arriscado mais
cedo, para crescer mais cedo, mas a vida é o que tem de ser, quando tem de ser
e quando estamos preparados para isso. Recordo-me de dizer à minha mãe, em
criança, que gostaria de ser escritora. É claro que ela me disse que isso não
seria uma vida estável para mim e incentivou-me a tirar um curso relacionado
com letras. Acabei por tirar Ciências da Comunicação e trabalhar como
jornalista em imprensa escrita, radiofónica e televisiva, mas se me
perguntarem, é a escrita criativa e romanceada aquilo que eu gostaria de fazer
para o resto da vida.
Numa palavra, o que a escrita
significa na sua vida?
Esperança.
Escrever não é mais do que esperar com esperança e sonhar com esperança. A
expectativa de algo melhor. Quando eu imagino, sonho e escrevo no papel, estou
a criar um mundo novo e posso fazer dele o que quiser. O nosso frágil corpo
humano pode estar velho, fraco, ou mesmo jovem e adoentado, mas os sonhos,
ninguém nos pode tirar. Quando escrevo, é isso que sinto, e se visse um doente
no hospital, dir-lhe-ia: “Leia um livro. Saia da sua vida para viver outra,
maior e melhor.” Como diria Fernando Pessoa, “Escrever é esquecer. A literatura
é a maneira mais fácil de ignorar a vida”.
Publicou o seu primeiro livro, “O
intruso”, em 2012, pela Chiado Editora. Como surgiu a oportunidade? Em que se
inspirou para escrever esse livro?
Comecei
a escrever «O Intruso» em Maio de 2012. Confesso que não fazia a mínima ideia
do que estava a fazer. Só queria escrever e não parar. Não tinha uma história
definida quando comecei a debitar palavras para o computador, embora tivesse
uma nuvem muito esbatida daquilo que queria na mente: vida após da morte. O que
acontece? Como? O medo e o fascínio pelo desconhecido. O que há do outro lado?
A parte do romance era a única certeza. Sempre fui fã de romances
contemporâneos e tenho uma biblioteca deles em casa, mas queria uma história
romântica que interligasse simultaneamente este meu fascínio pelos temas
ocultos. Acho que não podia começar por outro lado. A história foi crescendo,
primeiro com a Sara, depois com o Martim, depois com o Rodrigo, que,
curiosamente, não existia inicialmente nesta minha ideia maluca de conceber um
livro. Pensei que o vilão não seria vilão, mas vilã. A má da fita era,
inicialmente, a mãe da Sara, mas depois de algumas noites de insónia, pensei:
Não. Nem pensar! Quem mais seria o vilão senão um noivo morto inesperadamente
num acidente, que acorda daquele mundo espiritual para a assombrar? Não sei de
onde surgiu a ideia, nem a inspiração, mas penso que somos sempre influenciados
por aquilo que observamos e lemos. Eu fi-lo à minha maneira e embora admita que
se o fizesse agora, faria diferente e melhor, «O Intruso» será sempre o meu
livrinho de bolso, o primeiro e o mais pequenino, com falhas e imperfeições
próprias de uma principiante, mas que mostram que estamos sempre a crescer e
que a vida é uma aprendizagem. Não tive, nem sabia o que eram leitores-beta na
altura, por isso entreguei o romance a dois colegas de redação para que o
lessem, e depois de poucas alterações, decidi enviar para algumas editoras. A
Chiado foi a que me deu, na altura, melhores condições entre as hipóteses que
tinha, e decidi arriscar.
Está para breve, agora em 2013, a
publicação do seu segundo livro “As Gotas de um Beijo”, pela Alfarroba. O que
nos pode contar sobre este 2º romance?
Confesso
que tenho um carinho muito especial por esta segunda obra, pelos personagens,
pela história e por cada passagem que escrevi. Vou ainda mais ansiosa para a
publicação deste romance do que ia em relação ao «O Intruso». O meu primeiro
romance era uma incógnita, mas «As Gotas de um Beijo» foi lido por algumas
pessoas e apreciado, e estou ansiosa para que os leitores o devorem e me dêem a
sua opinião. Admito que este é mais a minha onda, um daqueles romances queridos
de fazer palpitar corações que eu sempre quis escrever.
«As
Gotas de um Beijo» trata a história de David, um homem pacato e solitário,
desde que o seu casamento de vinte anos terminou. Ele dirige um stand de
automóveis que é o seu único refúgio para apagar as memórias do passado,
contando apenas com Diana, uma amiga de infância que considera irmã, mas que é
mais do que isso. Diana é também ela divorciada e a solidão acaba por atirá-la
para os braços de David, mas a chegada de Laura muda tudo, uma mulher ruiva e
misteriosa que aparece numa manhã de Inverno para trabalhar na joalharia ao
lado do stand. E é aqui que tudo começa. David vai questionar tudo aquilo que
viveu no passado, a sua relação com a Diana do presente e o seu futuro com Laura,
uma desconhecida pela qual sente uma atracção inexplicável e perigosamente
arriscada.
Esta
era para ser a história da rapariga da porta ao lado, e acaba por ser, embora o
título não o confirme. Recordo-me do dia em que a imaginei. Estava na redacção
do jornal quando uma nova funcionária começa a trabalhar na loja ao lado, e ao
olhar para os olhos esverdeados de um dos meus colegas, mesmo em frente a mim,
vi o David e dei por mim a imaginar um amor, que ainda não era amor. Um homem
de 45 anos, divorciado, a quem eu queria oferecer uma nova paixão e uma
história de vida. Ela era jovem e penso que só neste ponto se assemelha à minha
Laura. O aspecto físico é outro, a história de vida também, mas o meu colega é
o mesmo e a amiga de longa data é real. Diana, é o nome que lhe dei, por ser um
nome que adoro e por espelhar tão bem a pessoa que ela é. Lamento tê-la tornado
mais deprimente do que é, na realidade, embora tenha tentado passar para o
papel um pouco do seu carácter livre, desprendido e divertido. Gostava de lhe
ter dado mais, porque é uma das minhas personagens favoritas, mas fiz a
história à minha visão e à minha maneira e penso que não poderia tê-lo feito
melhor, na altura em que o fiz.
Durante os longos almoços que partilhámos na
nossa cantina, em que eu ouvia as conversas, algumas discussões e gargalhadas
destes dois amigos, prometi-lhes que um dia haveria de escrever a sua história
de vida. Penso que a rapariga da porta ao lado ainda não existia, nesta altura,
mas foi a minha deixa para começar. A Diana tinha sido desde sempre a minha
escolha para personagem principal e é uma das principais. Só não esperava
apaixonar-me completamente pela Laura, pelo David, e até pelo César e pelo Rui.
A história acaba por ser sempre diferente daquilo que imaginámos à partida. É
uma relação estranha e incrível, entre o escritor, o papel e a imaginação. Os
personagens nascem como cogumelos, as paisagens também, e a história surge.
Dei-lhe três estrelas na primeira versão, embora o meu colega me tenha assegurado que este era o melhor romance que eu já tinha escrito até à data. Depois conheci a Ana Ferreira (Licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas, mestrada em ensino e blogger no blog Illusionary Pleasure, designer gráfica e editora na Divergência), e tudo desabou. Passei a acreditar que a história não valia mais do que uma ou duas estrelas e ainda fiquei algumas noites a pensar no que lhe fazer, quando a Ana me pedia conflitos, estrutura e objectivos. Eu achava-os todos na mente, mas não tinha capacidade de explicá-los, e quando ela me explicou a relação entre show/tell, compreendi finalmente. Não basta escrever, é preciso saber fazê-lo, e se não fosse ela, este romance não estaria assim. Acordei numa manhã de sol com tudo na cabeça: O que fazer? A resposta era óbvia: inverter a história, começar pelo fim e reescrever...reescrever tudo, linha a linha. Foi o que fiz, durante alguns meses a deitar-me tarde e a más horas, mas com uma sensação de prazer e realização enormes, quando a Ana aprovava os capítulos e me dizia para continuar. Dei-lhe quatro estrelas na segunda versão e acabei por dar-lhe cinco quando reescrevi pela terceira vez os quatro primeiros capítulos. Dou-lhe cinco, porque é uma história que me envolve, me cativa e me toca como nenhuma outra, e devo aos meus dois grandes amigos desta história e à Ana Ferreira tudo aquilo que consegui escrever. Costumo dizer que a história, em si, era muito boa, só precisava de ser escrita da melhor forma. Acho que o consegui. Ri, sofri, chorei e adorei. É mais do que previa para mim. É um dos meus filhos preferidos, «As Gotas de um Beijo», a história de David, Diana e Laura, e só espero que os leitores possam sentir o mesmo.
Dei-lhe três estrelas na primeira versão, embora o meu colega me tenha assegurado que este era o melhor romance que eu já tinha escrito até à data. Depois conheci a Ana Ferreira (Licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas, mestrada em ensino e blogger no blog Illusionary Pleasure, designer gráfica e editora na Divergência), e tudo desabou. Passei a acreditar que a história não valia mais do que uma ou duas estrelas e ainda fiquei algumas noites a pensar no que lhe fazer, quando a Ana me pedia conflitos, estrutura e objectivos. Eu achava-os todos na mente, mas não tinha capacidade de explicá-los, e quando ela me explicou a relação entre show/tell, compreendi finalmente. Não basta escrever, é preciso saber fazê-lo, e se não fosse ela, este romance não estaria assim. Acordei numa manhã de sol com tudo na cabeça: O que fazer? A resposta era óbvia: inverter a história, começar pelo fim e reescrever...reescrever tudo, linha a linha. Foi o que fiz, durante alguns meses a deitar-me tarde e a más horas, mas com uma sensação de prazer e realização enormes, quando a Ana aprovava os capítulos e me dizia para continuar. Dei-lhe quatro estrelas na segunda versão e acabei por dar-lhe cinco quando reescrevi pela terceira vez os quatro primeiros capítulos. Dou-lhe cinco, porque é uma história que me envolve, me cativa e me toca como nenhuma outra, e devo aos meus dois grandes amigos desta história e à Ana Ferreira tudo aquilo que consegui escrever. Costumo dizer que a história, em si, era muito boa, só precisava de ser escrita da melhor forma. Acho que o consegui. Ri, sofri, chorei e adorei. É mais do que previa para mim. É um dos meus filhos preferidos, «As Gotas de um Beijo», a história de David, Diana e Laura, e só espero que os leitores possam sentir o mesmo.
Está já a escrever o seu 3º
romance, “Anjo do Diabo”. O que nos pode adiantar sobre este projecto?
O «Anjo do Diabo» é um título
ainda provisório e vai ser alterado, mas é uma história que me deu imenso
trabalho. Escrevi-a três vezes e posso adiantar que, neste momento, estou muito
feliz com ela. É uma história que está, de momento, em revisão beta, nas mãos
de alguns leitores que tanto me têm ajudado a melhorar os meus romances, a quem
agradeço muito, e gostaria de o ver publicado no próximo ano. É uma história
com uma base verídica, porque me foi contada, mas acabou por tornar-se fictícia
com tudo o que eu lhe fiz. É curioso que, na altura, quando a ouvi, não achei
que desse história, mas depois de pensar muito no assunto, arranjei uma forma
de dar. É bom quando temos alguma verdade na história. Torna as coisas mais
reais. No entanto, eu não gosto de me sentir presa a isso. Gosto de ter o meu
espaço para imaginar, criar e escrever, e consegui isso ao transformar esta
história. É muito bom quando gostamos daquilo que escrevemos e é isso que sinto
com o «Anjo do Diabo». É uma história bonita, sentimental, doentia, forte e
muito familiar, que toca muito nos valores da irmandade, da amizade, do amor e
do poder da família. Acabou por ser muito melhor do que eu esperava e ainda me
espanto quando chego ao final e continuo apaixonada pelo que consegui fazer.
Ainda haverá alterações a fazer, mas é sem dúvida um livro que me deixa muito
feliz.
A obra trata a história de
Clara, uma mulher estragada pelo passado que tem a sorte de se casar com um
homem quase perfeito e o sonho de muitas mulheres. Só que ela não consegue ser
feliz, mesmo com a felicidade à porta. É uma mulher que não aprendeu a amar e
não sabe fazê-lo senão com as pessoas erradas e que lhe fazem mal. O Hugo é um
vilão e um amor do passado, mas eu adoro este vilão por não ser um vilão de
gema. É uma pessoa má e boa ao mesmo tempo, para amar e odiar simultaneamente,
com justificações injustificáveis para aquilo que faz, mas sempre a apelar à
pena do leitor. Gostava que os leitores pudessem ver o seu lado bom e que o
perdoassem. Eu continuo a tentar fazê-lo. É uma história que me arrebata por
completo, por apelar a tudo aquilo que o ser-humano pode e não pode dar,
consoante as circunstâncias. É uma obra de extremos e que põe todos os
sentimentos à flor da pele.
Tem mais algum projecto literário
em mente?
Sim.
Neste momento, enquanto o «Anjo do Diabo» está em apreciações, tenho trabalhado
naquele que foi o segundo romance que escrevi e nunca publiquei, «O Escultor».
É um género diferente, um romance policial, e confesso que só agora me começo a
apaixonar por ele. Foi o primeiro romance até agora em que o título me surgiu
mesmo antes da história, quando abri um e-mail sobre um festival de esculturas
em areia em plena redacção. Pensei que fosse mais fácil de o fazer sair, mas
enganei-me. Escrevi-o duas vezes e tinha uma série de problemas, por ser uma
história tão complexa e exigir tanta investigação na área policial. Depois de
muito tempo em depressão e fortemente medicado, retirei-o da gaveta e estou a
dar tudo o que tenho para que ele sobreviva. Escrever um livro nem sempre é
fácil. Na maioria das vezes, é difícil e rouba-nos meses e meses a fio a
escrever e outros tantos a pensar. Mas há uns mais fáceis que outros, histórias
mais simples que outras. Este, para mim, é dos complicados, mas estou a lutar
por tê-lo como quero e não vou desistir enquanto não o conseguir. Já começo a
vê-lo com outros olhos e penso que os personagens, dentro das folhas de papel,
já me lançam olhares de aprovação e um meio sorriso. Quero arrancar-lhes um
sorriso aberto e, se possível, que me tirem o chapéu.
Desde que escreveu e publicou “O
Intruso”, como vê e sente o seu desenvolvimento enquanto escritora?
Felizmente,
sinto que tenho desenvolvido muito. Tive a sorte de conhecer as melhores
pessoas para estarem ao meu lado nesta difícil jornada. Desde a publicação do
meu primeiro livro, tenho conhecido os melhores leitores-beta que, sem pedirem
nada em troca, me têm ajudado a melhorar os romances, seja ao nível da fluidez
da escrita, seja em termos de enredo e de criação de personagens. Tenho
aprendido imenso sobre estrutura de texto e agradeço essencialmente à Ana
Ferreira por ter perdido tanto tempo comigo, a ensinar-me e a rever os meus
textos. De algum modo, sinto-me lisonjeada, porque quero acreditar que o fez
por saber que valia a pena. Tenho-me esforçado para isso, para que valha sempre
a pena. Aconselho todos os escritores a nunca temerem as críticas, porque elas
são necessárias para que cresçamos sempre. Penso que com uma boa dose de
humildade, reconhecendo sempre os nossos erros e a nossa pequenez, sempre com
uma enorme força de vontade para melhorar, chegamos longe.
O que é mais gratificante em ver
os seus livros publicados?
Poder
alimentar os sonhos dos leitores, fazê-los sonhar, nem que por umas horas, e se
possível, apaixonarem-se uma, duas, três vezes. Fazê-los passar momentos
inesquecíveis e provocar-lhes um sorriso no rosto, uma gargalhada alta ou uma
lágrima a brotar dos olhos. Todos precisamos de sonhos. É gratificante ler e
ouvir os leitores falar sobre o livro e os personagens como se a história fosse
real e tivesse acontecido em alguma das suas vidas passadas. É isso que eu
quero, que o autor deixe de existir por detrás das palavras. Que a história
seja tão boa que o leitor se envolva completamente e entre de cabeça. Quero que
a história seja boa a ponto de levar o leitor a sonhar com ela mesmo depois de
ter lido, que o faça feliz por instantes, levando-o a esquecer os problemas da
vida, e que seja mais uma aprendizagem.
Tem recebido algum feedback dos
seus livros, em especial através de blogs e grupos literários. O que isso a faz
sentir? De que modo isso a ajuda a desenvolver enquanto escritora?
É
muito bom receber o feedback dos leitores. Eu própria vibro sempre que gosto de
um livro português e faço questão de ir logo falar com o autor e mostrar aquilo
que senti. É óbvio que é muito bom quando a crítica é positiva e me faz corar
de vergonha e sentir o coração aos saltinhos de tão feliz. E penso: “Esta
pessoa está a falar de uma coisa que eu fiz, um livro que eu escrevi. Meu Deus!
Como deu trabalho este livro! Mas valeu a pena”. Quando a crítica é menos
positiva, (e felizmente ainda não recebi nenhuma completamente negativa, mas
penso que lá chegarei, porque não podemos agradar a todos), desde que seja
construtiva e não ofensiva, é indispensável para o crescimento de um autor.
Os
blogs são muito importantes para a divulgação do trabalho dos autores e
sinto-me privilegiada por ter sido lida e opinada por muitos e continuar a ser.
Acho que são uma rampa de lançamento, principalmente para os principiantes, e é
bom sabermos que estamos a ser opinados por verdadeiros críticos literários,
pessoas que lêem muito e que estão dentro do mundo da literatura.
É técnica de ginástica
acrobática. Como concilia ambas as paixões no seu dia-a-dia?
Bem,
eu diria que são dois trabalhos e duas paixões ao mesmo tempo, e é claro que
gostaria de fazer mais dos dois, mas dá para conciliar muito bem. Aproveito
sempre os tempos livres que tenho para fazer da escrita não um hobby, mas uma
profissão, esquecendo, no entanto, as obrigações, e apelando sempre ao prazer.
A escrita é uma paixão ou uma
vocação?
Penso
que é as duas coisas: uma paixão, sem dúvida, porque me dá imenso prazer
escrever, e uma vocação, também, porque sinto que devia tê-lo feito desde
sempre. Sempre me senti à vontade a escrever e sempre fui uma sonhadora. Vivo
muito lá em cima e a escrita é isso: transformar em palavras aquilo que
sentimos e sonhamos e tornar sonhos realidade.
Para terminar, deixe uma mensagem
aos leitores do tertúlias.
Caros
leitores, continuem a acompanhar as novidades do blog, as divulgações e as
opiniões das obras e dos autores e nunca deixem de sonhar. Incentivem os vossos
filhos a ler de pequeninos, porque um leitor vive mais do que uma vida e é feliz
mais do que uma vez. Rimos e choramos mais do que a maioria que não sente um
livro nas mãos, mas também amamos mais e somos mais solidários com os outros.
Ler é ser melhor a cada dia, aprender a cada dia e amar mais do que uma pessoa
e mais do que uma vez. Aproveitem para ler «O Intruso» e não se esqueçam que em
Novembro deste ano um exemplar de «As Gotas de um Beijo» pode ser vosso. Não
percam esta história de amizade e de amor, que ficará na vossa memória.
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