sábado, 22 de março de 2014

[Opinião] - "O Culpado" de Lisa Ballantyne



"O rapaz era o mais novo dos seus clientes até este momento, mas as palavras que lhe ouvia mostravam que estava mais confiante do que muitos dos adolescentes que já defendera. Os olhos curiosos de Sebastian e a sua voz bem-educada e quase jovial desarmaram-no. Quanto à mãe, a colecção de joias que exibia parecia pesar mais do que o seu próprio corpo e a roupa que vestia dava a impressão de ter sido cara. Os ossos finos da mãe, que acariciava a perna do filho, pareciam os de uma ave.
O miudo só pode estar inocente, pensou Daniel (...)"





O Culpado, de Lisa Ballantyne, foi um livro que me chamou a atenção assim que li a sinopse. Para além disso a capa remeteu-me para a solidão e os maus tratos, o que fez com que a vontade de o ler fosse ainda maior.

Esta não é uma leitura leve, nem para se ler com a leveza com a qual, por vezes, lemos os livros que nos cativam. Este livro prende-nos a ele pela sua trama morosa e cruel, pelos contornos das histórias de vida das personagens e pelo ritmo que a escrita lhe imprime.

Geralmente temos tendência a olhar e a pensar as crianças como os seres puros e sem maldade. Será uma criança capaz de cometer um dos mais atrozes crimes? Terá uma criança a capacidade de discernir o bem do mal ao ponto de premeditar e encetar um homicídio?
Em O Culpado Sebastian Croll, 11 anos, é acusado de matar Ben Stokes, de apenas 8 anos.

Este livro encontra-se dividido em três subnarrativas: crimes, culpa e o julgamento. Tal como a sequência sugere a intensidade vai aumentando à medida que lemos, tendo o seu desfecho no julgamento de Sebastian Croll.

No entanto podemos referir que a personagem principal deste livro é Daniel Hunter, advogado de defesa de Sebastian. Através de analepses intercaladas com a acção actual vamos conhecendo a vida de Daniel, a criança que foi e os fantasmas do passado que surgem quando este se depara com Sebastian, e com os quais se debate durante toda a acusação e julgamento.
Será que o nosso passado poderá toldar o juízo que fazemos das pessoas com quem nos deparamos?

A parte que mais gostei no livro foi o julgamento. Conseguir imaginar o tribunal, as alegações dos advogados, as testemunhas e os contra-interrogatórios fascinou-me e foi um dos pontos altos do livro. A história de Sebastian faz-nos sentir um misto de emoções contraditórias, tanto sentimentos empatia com aquele menino de 11 anos como conseguimos questionar a frieza que este apresenta. A história de Daniel é mais pormenorizada e leva-nos através da vida de um menino vitima de maus tratos e negligência que encontra em Minnie, mãe adoptiva, o amor e a segurança que nunca sentira.
O que será que fez com que Daniel afastasse Minnie da sua vida?

No final o desfecho de ambos os casos é bastante previsível, o que fez com que fechasse o livro com um sentimento de que faltava algo, de que esperava mais.

Não foi um livro que me arrebatou mas tem profundidade q.b. para agarrar o leitor até à última página, sempre esperando a reviravolta que nos sustenha a respiração e nos faça arquejar ao ler. Para mim esse colmatar que eu esperava não aconteceu, mas tenho a certeza que muitos dos leitores terão neste livro os ingredientes necessários para ser uma grande leitura.

Fãs do género, não percam esta leitura e não deixem de tirar as vossas próprias conclusões sobre a mesma pois O Culpado é um livro com temáticas tocantes e profundas que merecem a nossa reflexão.


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