segunda-feira, 9 de junho de 2014

[Opinião] - "Rosa Cândida" de Audur Ava Ólafsdóttir



"Sempre que queria estar sozinho com a minha mãe, ia ter com ela à estufa ou ao jardim. Era aí que podíamos falar. Por vezes ela parecia distraída e eu perguntava-lhe em que estava a pensar, ela dizia: Sim, sim, gosto do que dizes. E depois oferecia-me um sorriso encorajante de aprovação.(...) É difícil explicar ao meu pai, com palavras, o meu mundo e o da minha mãe. Interessam-me as coisas que nascem de solos férteis” 






Admito que nunca tinha ouvido falar de Audur Ava Ólafsdóttir, no entanto o meu repertório de autores nórdicos é bastante diminuto (sendo uma grande falha minha). 

Quando o livro me chegou às mãos fiquei com alguma curiosidade em lê-lo. Em primeiro lugar pela razão já referida antes, porque a sinopse me chamou a atenção e porque achei a capa diferente e belissima com as tonalidades suaves que podemos ver.

Começo já por dizer que não foi um livro que me tenha cativado. Foi,aliás, uma leitura lenta e morosa e que tive dificuldade em resistir à tentação de o pôr de parte. No entanto, e tendo depois reflectido sobre o mesmo, há alguns pontos interessantes que eu gostaria de abordar sobre esta leitura.

Neste livro encontramos mais do que simples palavras e mais do que uma simples história de amor. Com bastante simplicidade, Audur Ava Ólafsdóttir fala-nos de um amor delicado e absoluto. Podemos ler e sentir, ao longo de todo o livro, o sentimento enorme relativamente à natureza, em especial às flores (e às rosas claro). Esse amor chega até nós de forma sensível, e estranha talvez para quem nunca tenha parado para pensar que poderemos adorar tanto as plantas, a natureza ou aquilo que nos rodeia. Para além disso este amor é quase, atrevo-me a dizer, metafórico, simbolizando o amor materno. 

Lobbi vive com o pai, octogenário, e o irmão autista, Josef. No inicio do livro deparamo-nos com uma família desamparada, desfragmentada, devido ao falecimento do seu elo de ligação: a mãe de Lobbi e Josef. Lobbi decide então deixar tudo para trás, e partir, rodeando-se pela natureza, seguindo o conselho da sua mãe para que se dedique à estufa e à natureza, em especial à Rosa Cândida.

O facto deste ser um livro que nos leva para o mundo natural das plantas e das flores faz com que, por vezes, quase consigamos imaginar as cores e as fragrâncias que envolvem Lobbi. É uma sensação quase mágica e que eu, pessoalmente, nunca tinha tido ao ler um livro cujas emoções que me suscita são tão ambivalentes.

Para além de toda a sensibilidade que envolve o que referi até agora, para mim foi interessante perceber a complexidade das personalidades destas personagens, o modo como cada um viveu a perda da mãe/esposa, e a complexidade de relações familiares que vamos encontrando entre eles.

Um outro ponto do qual gostei é que ao longo da leitura vamos acompanhando o amadurecimento de Lobbi, e vamos constatando que o "rapaz" se torna "homem". 

O ritmo impresso através da escrita da autora foi algo que não ajudou a que desse um valor maior ao livro. Achei lento e, por vezes, entediante o que fez com que demorasse muito tempo a acabá-lo.

Também a inexistência de uma localização geográfica me agradou menos. Eu gosto de ir situando o enredo num espaço, poder viajar com o livro. Neste caso a viagem foi quase como uma ilusão, não podendo dar uma "cara" ao espaço que nos ia sendo relatado.

Posso, então, concluir que esta foi uma leitura que não me encantou, que se situou, por vezes, em polos tão opostos que quase não consigo dizer que gostei ou que não gostei. Uma leitura....diferente.
Não posso terminar sem deixar de referir que este foi um livro que me fez olhar o amor como uma rosa.... como algo que precisa de ser cuidado para que floresça bonito e saudável.

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