Os contratos do comerciante. Uma
comédia bancocrática.
E agora que perdeu todo o seu dinheiro? As poupanças de uma
vida… sumiram-se? E o seu banco? O banco era menos previdente do que a sua avó,
que guardava as poupanças debaixo do colchão. O banco, além disso, é mais
arrogante, e nem sequer lhe pedirá desculpa por ter desaparecido com as suas
poupanças. Afinal, a culpa também é sua! Não foi você quem lhe confiou o seu
dinheiro?
É esta a violência provocatória com que Elfriede Jelinek,
laureada com o Prémio Nobel da Literatura em 2004, agita os seus leitores.
Imediatamente antes de os primeiros escândalos financeiros
mundiais se tornarem públicos, a austríaca Elfriede Jelinek previu a derrocada
do capitalismo e o estertor dos seus cúmplices, grandes e pequenos.
Esventrando, com o dom da sua escrita circular, minuciosa,
feita de charadas, a aparentemente normalidade da sociedade assente no lucro, a
escritora põe a nu as falhas, a fraquezas, a crueldade e o ridículo do
capitalismo.
Não se julgue, no entanto, que este é um texto moralista.
Não. A escritora mostra-nos as correntes fortes e entrecruzadas que amarram e
deformam até os elementos mais puros das nossas vidas. Cabe ao leitor desfazer
os nós.
Os contratos do
comerciante. Uma comédia bancocrática valeu mais uma vez a Elfriede Jelinek
o cognome de Cassandra, a que tudo adivinha. E, de facto, 6 anos depois da
publicação deste texto, é impossível não unir ponto por ponto esta ficção à
nossa realidade.
Dada a sua pertinência, o texto foi traduzido para português
por Helena Topa e encenado pelo Ponto Teatro, sob a direcção de Emanuel de
Sousa. A encenação optou por trazer a palco o feliz título CAPITAL FUCK, que
optámos por manter como título principal nesta edição conjunta entre a Verso da
História, a Ponto Teatro, o Goethe Institut e a Embaixada da Áustria.
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