segunda-feira, 15 de junho de 2015

[Opinião] - " O Longo Inverno" de Ruta Sepetys


Muitos de vocês sabem o quanto eu gosto de livros com bastante conteúdo histórico, livros baseados em factos reais que nos fazem conhecer melhor a história do mundo em que vivemos, em especial sobre o Holocausto e os anos da Segunda Guerra Mundial.

"O Longo Inverno", sendo um livro ficcional, tem por base factos reais, tendo sido construído através da própria história da autora e através de testemunhos reais de sobreviventes lituanos e finlandeses daquilo que foi a violenta época sobre o regime soviético. (podem ver uma interessante entrevista à autora aqui).

Somos inundados por livros sobre a Segunda Guerra Mundial, sempre com enfoque nas atrocidades alemãs e no inferno que o povo judeu sofreu nas mãos dos nazis, sendo raro focar o outro lado da europa. Esta leitura agradou-me especialmente por focar o outro lado, por nos levar a um pedaço de história que se conhece menos e que é menos retratada, mas que foi um inferno gelado: a invasão soviética aos países circundantes (estónia, Letónia, Lituânia e países nórdicos). E o que o povo lituano sofreu às mãos de Estaline é muito semelhante aos que os Judeus sofreram com Hitler.... mas disto pouco se fala.

É através de Lina, uma jovem lituana de 15 anos, que ficamos a conhecer as atrocidades e as condições desumanas e indignas em que este povo viveu durante a invasão soviética aos seus países. Lina e a sua família, como as restantes famílias lituanas, tinha uma vida comum, trabalhavam e perseguiam sonhos, até ao dia em que a policia soviética entrou de rompante pela casa dentro e lhes roubou os sonhos, e a muitos roubou a vida.
Lina, o seu irmão de 10 anos e a mãe são enviados para um campo de trabalho na sibéria, onde as condições eram desumanas e o frio incalculável, enquanto o seu pai foi enviado para uma das prisões soviéticas. Durante grande parte do livro seguimos viagem com esta família, vamos conhecendo outras personagens que se tornam indispensáveis nesta historia e na força e sobrevivência de Lina. A viagem é feita de comboio, em carruagens para transporte de animais, sem condições e com as paragens mínimas onde mal conseguiam comer ou aliviar as necessidades. Inevitavelmente confrontamos-nos com diversas mortes ao longo do caminho. No final do livro, e já no campo de trabalho, as atrocidades mantém-se, sendo agravadas pelos frio que se fazia sentir. Foi nesta parte do livro que senti um maior crescimento a nivel das personagens, e que o livro se torna, ainda, mais interessante.
O desfecho é rápido, e faz-nos querer que o livro tenha mais páginas, que nos conte mais e mais.

Apesar de Lina ser a personagem principal, e se ser uma jovem guerreira, que nunca baixou os braços pela sua sobrevivência en daqueles que amava, que nunca deixou de tentar chegar até ao pai através da sua arte e dos seus desenhos, de modo a que, um dia, todos soubessem o que viveram naquele local, esta não é a minha personagem preferida.
Gostei muito da personagem Elena, mãe de Lina, uma mulher lutadora na protecção dos filhos, que raramente perdeu a calma e a esperança e sempre manteve uma postura pro activa e de entreajuda para com os que a rodeavam.
Andrius, um jovem pouco mais velho que Lina, foi também uma personagem que muito me agradou. Vamos conhecendo este personagem a pouco e pouco, mas vai-se revelando uma personagem fulcral para o decorrer da trama e para a sobrevivência dos demais, uma personagem que aprende a aceitar o que se passa à sua volta e o que tem que ser feito para que sobrevivam...a qualquer custo.

No entanto, o meu personagem preferido é Nikolay, o guarda soviético que acompanha esta família até ao campo de trabalho. Uma personagem que tem tanto de mau como de bom, uma personagem que nos faz pensar no quão reprovável era aquele trabalho mas até que ponto aqueles guardas, também eles seres humanos, vivam com o que faziam sem se deixar afectar? Até que ponto a consciência lhes pesaria, e até que ponto poderiam, também, ser castigados por não concordar com o que ali se passava ou por criar laços e afinidades com aqueles a quem deveriam infligir sofrimento?

"O Longo Inverno" foi uma pequena leitura cheia de emoções e de significados. Um dos melhores livros que li, atrevo-me a dizer, desde sempre. Adorei. Um dos livros que certamente lerei daqui a uns anos e que me despertará as mesmas emoções. Uma leitura que nos assombra, e nos deixa assoberbados.
Aconselho a sua leitura, em especial a quem, como eu, seja fã deste género de leitura.

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